Por que curadoria, discernimento e moderação são mais importantes do que nunca
Por Stepfanie Tyler – 23 de abril de 2025

Vivemos submersos em um mar de conteúdo.
Cada segundo online é um convite ao excesso. Rolagens infinitas, vídeos curtos, manchetes que piscam — mais entradas, mais ruído, mais estímulos disputando sua atenção. E, nesse cenário saturado, as antigas formas de medir inteligência — memória, velocidade, retórica — perdem valor.
Hoje, a questão deixou de ser “isso pode ser feito?” para se tornar “isso vale a pena?”. A fronteira se deslocou do volume para o valor. E, nesse novo território, o bom gosto não é apenas uma qualidade — é uma habilidade de sobrevivência.
Mas não falamos aqui de gosto superficial. Não é sobre tendências da moda, filtros estéticos ou minimalismo elitista. Trata-se de um gosto enraizado em coerência. Clareza. Discernimento. A capacidade de escolher o que realmente importa, quando tudo ao redor parece gritar que tudo importa.
Quando a abundância é infinita, a atenção vira moeda. E aquilo a que você dedica atenção — o que consome, compartilha, endossa — revela, na prática, como você pensa.
Da informação à intenção
Já foi tempo em que inteligência era sinônimo de acumulação. Quem sabia mais, valia mais. Mas hoje, com a inteligência artificial superando qualquer ser humano em volume de dados, isso perdeu relevância. A informação está democratizada. O novo valor está em como você a filtra, em como percebe o sinal dentro do ruído.
A curadoria é o novo teste de QI.
O gosto, tantas vezes confundido com vaidade, é, na verdade, uma forma de alfabetização. Ele nos ensina a ler o mundo — não apenas em palavras, mas em ritmos, proporções, vibrações. Bom gosto não é sobre estar certo. É sobre estar sintonizado.
As pessoas de bom gosto nem sempre são as mais ruidosas. São as que ressoam. Que fazem seu espaço transmitir calma. Que têm o toque invisível que faz tudo parecer certo, mesmo sem explicação.
Elas não buscam a excitação fugaz da novidade. Elas escolhem o que permanece.
Rick Rubin e a codificação do invisível
Poucos entendem isso melhor do que Rick Rubin. Produtor lendário, Rubin trabalhou com nomes tão diversos quanto Johnny Cash, LL Cool J e Lana Del Rey. Ele não define o som de uma época — ele o reconhece antes de todos.
Rubin não brilha pelo domínio técnico. Ele brilha pela escuta profunda. Pela capacidade de perceber a verdade antes que ela seja lógica. Sua presença num estúdio não é para controlar. É para sentir.
“Não entendo nada de música. Meu trabalho é ouvir — sentir se ela está viva.”
— Rick Rubin
Em The Creative Act, Rubin mal menciona seu próprio nome. A capa é discreta, o ego ausente. É uma aula de sensibilidade. Um manifesto de bom gosto sem alarde, clareza sem autopromoção.
Sua genialidade está em sentir a vibração antes que ela seja visível. Essa sensibilidade é sua assinatura. E é disso que se trata o verdadeiro gosto: uma coerência interna afiada pela atenção plena.
O fim dos guardiões, o início da responsabilidade
Antes, a curadoria era papel dos editores, críticos, acadêmicos. Eles filtravam o que valia a pena. Hoje, todos somos curadores. Criadores. Amplificadores. Isso é lindo — e exaustivo.
Quando tudo pode ser dito, o mais importante é saber o que ignorar.
Por isso, o gosto se torna essencial. Porque ele guia nossas escolhas — de leitura, de influências, de referências. Ele é filtro e farol. Os algoritmos seguem o que você consome. Alimentam você com mais daquilo que você sinaliza. Não são tendenciosos. São obedientes.
O gosto, nesse contexto, vira responsabilidade. Porque ele molda sua percepção. Protege seu espaço mental.
“Tudo com que entramos em contato tem o potencial de influenciar nosso paladar. Portanto, a arte de viver bem inclui a arte de alimentar seu fluxo de informações.”
— Rick Rubin
Você pode não controlar o mundo, mas controla sua casa, seu feed, sua estante. E isso basta para moldar quem você se torna.
A dieta da atenção
O TikTok ensina a desejar dopamina.
O Instagram ensina a comparar.
𝕏 ensina a performar.
O Substack — se você permitir — pode ensinar a pensar.
Mas só se houver intenção.
Curadoria não é luxo. É manutenção. É o jeito como você cuida da sua mente. Cada escolha de consumo é um voto no tipo de pessoa que você quer ser.
Toda vez que você escolhe o que não consumir, está protegendo a integridade do seu foco.
Cada livro lido, cada conteúdo ignorado, cada não clicado — tudo isso constrói a biblioteca que sustenta o seu eu.
“Os detalhes não são os detalhes. Eles fazem o design.”
— Charles Eames
O gosto como estrutura invisível
Bom gosto não é um traço. É uma arquitetura. Está na escolha do que vestir, no tom de voz, nos gestos, nos livros da estante. Está na decisão de recusar o hype, de silenciar o ruído, de construir um mundo interno coerente.
Slim Aarons registrava “pessoas atraentes fazendo coisas atraentes em lugares atraentes”. Mas o que tornava seu trabalho especial não era o glamour, e sim a coerência. Luz dourada, ociosidade elegante, narrativa visual. Um mundo inteiro em cada imagem.
Steve Jobs, por sua vez, fazia da redução uma arte. Seu gosto era pelo essencial — no design, na fala, nas ideias.
“No fim das contas, tudo se resume ao gosto. Tudo se resume a tentar se expor às melhores coisas que os humanos já fizeram e, então, tentar aplicar essas qualidades no que você está fazendo.”
— Steve Jobs
Paladar como orientação espiritual
Rick Rubin fala da vida como um “prisma do eu”. O gosto não é fixo — mas é alinhado. É o elo invisível entre os seus muitos interesses. Não limita, organiza. Não reprime, sustenta.
Você pode gostar de cantos gregorianos, cozinhar do zero e estudar IA — se tudo isso pertencer ao mesmo mundo interno. Se ecoar o mesmo ethos.
O gosto é a costura que une todas as suas partes.
E, por isso, ele não nasce pronto. Ele se cultiva.
Você o afina observando o que te comove. O que te desgasta. O que te devolve energia sem esforço. Você o fortalece como um músculo: escolhendo o mais lento, o mais denso, o que exige digestão profunda. E você poda. Sempre.
Não porque isso impressiona.
Mas porque protege sua alma.
Você é aquilo em que presta atenção.
E seu gosto é o que torna esse processo intencional.
“O paladar é apenas outro nome para um padrão pessoal, e os padrões são sempre pessoais.” — Clive James

Como sempre, obrigada por ler comigo. Escrever tem sido parte integrante da minha jornada, então, se você gostou deste post, considere curtir e/ou compartilhar para ajudar a aumentar sua visibilidade. Agradeço muito. Beijos!

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